O que faz um filme entrar para a história do cinema? Um bom roteiro, atuações de peso e uma boa direção são os primeiros fatores considerados. Mas você já se atentou aos detalhes? Um filme marcante carrega consigo cenários, figurinos e objetos que são facilmente associados a ele, como a bola Wilson, de Náufrago e as pílulas da escolha de Neo, em Matrix.Selecionamos alguns dos objetos mais marcantes do cinema – e a história por trás de cada um deles. Confira:
Um Anel (ou Anel de sauron) – O Senhor dos Anéis
O diretor de arte Grant Major, ganhador do Oscar por seu trabalho em O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, revelou que o processo de concepção do design do anel não foi um dos mais complicados. Ele disse que temia que o projeto passasse por muitos ajustes, devido a expectativa dos fãs e especialistas, e representatividade do objeto dentro da saga: “Na época, Peter Jackson [diretor] tinha a palavra final sobre as decisões que envolviam o design de produção. Um dos produtores, que estava pra se casar na época, nos cedeu sua aliança e ela foi considerada perfeita para o ponto de partida do modelo final”. Ele contou também que um joalheiro local da cidade de Nelson, Nova Zelândia (local onde a saga foi filmada), foi escolhido para fabricar a peça. Após a confecção de alguns protótipos, a versão final foi escolhida, e produzida em quantidade: “Em torno de 40 peças foram feitas, para serem usadas por atores e dublês, de tamanhos distintos”, revela Major. Um anel em grande escala também foi fabricado, para uma tomada onde a joia é filmada bem de perto.
Coração do Oceano – Titanic
Ao contrário do que muitos pensam, a joia Coração do Oceano não é um diamante de fato, como também não existiu no verdadeiro Titanic – apesar do final do filme fazer com que seja possível acreditar que tudo aquilo foi real. Mas não é por isso que, além do valor histórico da peça para o cinema, ela perca seu preço: o colar usado por Rose foi avaliado em mais de 10 mil dólares, em 1997. O Coração do Oceano foi fabricado pela joalheria inglesa Asprey & Garrard, e é composto por uma pedra semipreciosa chamada zircônia, afixada em uma base de ouro branco: “Precisamos usar uma pedra especial para que a joia parecesse realmente valiosa, com as propriedades de refração bem próximas as de um diamante”, contou o diretor de arte Peter Lamont. Uma cópia, de material mais barato, também foi confeccionada para a cena onde a joia é jogada no oceano. O Coração do Oceano se encontra hoje no acervo da Fox.
Wilson – Náufrago
A bola Wilson é mais que um objeto, é o parceiro de cena de Tom Hanks no longa Náufrago, de 2000. O astro desabafa e contracena com Wilson, nomeado assim pela marca de artigos esportivos que ele carrega. Mas você sabia que essa história tem um grande fundo de verdade? O roteirista do longa, William Broyles Jr, já ficou sozinho em uma ilha do México, tentando sobreviver. Durante sua experiência, ele de fato encontrou uma bola Wilson e também fez amizade com ela, por conta da solidão: “Mais tarde, conversando com psicólogos, descobrimos que é comum dialogar com objetos inanimados durante grandes períodos de isolamento, porque é difícil lidar com a solidão nessas situações”, revelou Robin L. Miller, aderecista do longa e responsável por guardar (com muito cuidado) as três bolas usadas durante as filmagens. Na época, a fabricante do objeto não deu muita importância para o filme, e a produção precisou implorar para que a empresa cedesse algumas para as filmagens. Porém, com o sucesso alcançado, a Wilson ainda lucra com réplicas do “personagem”, vendidas em lojas por todo o mundo.
Cabeça de Cavalo – O Poderoso Chefão
Ao contrário do Coração do Oceano, que parecia, mas não era de fato um diamante, a famosa Cabeça de Cavalo usada em O Poderoso Chefão era real! O produtor Al Ruddy revelou que a equipe do longa utilizaria, a princípio, uma cabeça cedida pelo estúdio, proveniente do set de um filme de velho oeste; mas a peça estava em péssimas condições, e por esse motivo, o diretor Francis Ford Coppola fez uma escolha mais realista: “A cabeça era de um cavalo que já iria ser sacrificado, pois estava com enfisema. O cavalo usado nas outras tomadas não foi o mesmo”, contou Ruddy.O ator John Marley, que gravou a cena icônica, era conhecido pela equipe por seu jeito reclamão – “Marley era um chato no set. Quando fomos filmar a cena, Coppola disse: essa é a minha oportunidade de ‘vingança’. John não queria esticar as pernas, e Francis insistia”, acrescentou o produtor. O ator entrou em pânico assim que viu a cabeça na cama, banhada em sangue falso. Segundo ele, os gritos da sequência foram captados nesses momentos, enquanto o resto da equipe dava muitas risadas. Depois de finalizar a cena, John Marley só voltou a gravar no dia seguinte.
Sabre de Luz – Star Wars
“Quando vi o desenho criado a partir da descrição de George [Lucas, diretor] do sabre de luz, sabia que ele seria o símbolo do filme. Ele criou algo que todo mundo gostaria de ter”. Essa foi a reação descrita pelo cenografista Roger Christian, que trabalhou no set de Star Wars: Uma Nova Esperança, de 1977, ao entrar em contato com um projeto do sabre de luz. Ele conta que precisou montar o objeto, mas teve muitas dificuldades em encontrar os materiais para deixá-lo com o peso e estética perfeitos para as filmagens. Um dia, enquanto confeccionava os binóculos de Luke Skywalker, ele encontrou duas partes de câmeras fotográficas. Ele decidiu uni-las com super cola e foi à uma loja de artigos fotográficos, em Londres, buscar material e inspiração. Em uma caixa do estabelecimento, coberta por poeira, ele encontrou seis câmeras Graflex: “Era como se tivesse encontrado o Santo Graal. Elas tinham botões vermelhos, eram realmente lindas” descreve Roger. O cenografista ainda complementou as peças com partes de uma calculadora, e seu trabalho foi reconhecido e aprovado por George Lucas.
Hoverboard – De Volta Para o Futuro
Quem nunca sonhou em ter um skate voador para chamar de seu? Na década de 1980, Robert Zemeckis e Bob Gale, nomes a frente da trilogia De Volta Para o Futuro, imaginaram que planar pelas ruas seria possível em um futuro próximo, e idealizaram um Hoverboard. “Eu estava trabalhando em uma empresa de efeitos visuais na época [1986]. Meu chefe entrou na sala e disse: ‘Zemeckis quer filmar De Volta para O Futuro II, iremos parar no ano de 2015, e teremos algo chamado Hoverboard – tragam ideias”, conta John Bell, o homem responsável por dar vida aos planos do diretor e roteirista da trilogia. Seu projeto de 1986 foi de fato concretizado dois anos depois, quando o longa começou a ser desenvolvido. A princípio, Bell imaginou um objeto bem maior, algo que se assemelhava a uma prancha de snowboard. O Hoverboard também seria repleto de personalizações, pois segundo a cultura do skate da época, era uma forte tendência adicionar adereços às pranchas. “Imaginamos algo muito grandioso, com asas e propulsores, mas quando precisamos produzir algo assim em grandes quantidades, torna-se inviável pelo alto custo”, revela o “pai” do Hoverboard, uma vez que esse tipo de objeto de cena precisa ter algumas réplicas no set, caso sofra alguma avaria durante as filmagens. Apesar do design final ser considerado simples, Bell compara o objeto a gadgets modernos: “A magia está dentro dele. Você não entende, mas é divertido usá-lo. Como um smartphone”.
Pião – A Origem
“Christopher Nolan [Diretor] tinha essa coisa velha, que ele chamava de pião… mas aquilo não girava, de fato. Então, eu o redesenhei por completo, e a única coisa que mantive foi a sua textura”, declara Scott Maginnis, responsável por criar um dos objetos mais intrigantes do longa A Origem. Ele conta também que confeccionou em torno de vinte piões, e os rodou por horas para decidir qual deles tinha o melhor giro diante das câmeras.Se você curte esse objeto, alguns sites de ecommerce disponibilizam versões bem parecidas com as do filmes – algumas até prometem girar por horas, sem cair, graças a um sistema de equilíbrio interno.
Livro do Arraso (Burn Book) – Meninas Malvadas
O diretor Mark Waters conta que, quando leu o roteiro, nenhuma descrição precisa do Livro do Arraso foi concluída: “Karen pega um caderno da estante”, era só o que eles tinham. Criar, do zero, um objeto tão marcante do filme foi um grande desafio. O livro, segundo Waters, precisava se assemelhar a um álbum de formatura, para que passasse despercebido pelos pais. Também precisava ser rosa – única cor possível para a icônica Regina George.Através de pesquisas e fotografias de jovens da época – algumas cedidas por Jamie Lee Curtis, de sua filha adolescente, uma vez que a atriz tinha acabado de gravar o longa Sexta-Feira Muito Louca e era amiga de Waters, que a dirigiu nesse trabalho – chegou-se ao desenho final do famoso livro.
Pílulas – Matrix
O que havia dentro das pílulas azul e vermelha de Matrix? Pelo visto, nem a produção se lembra. O produtor Owen Paterson conta que médicos orientaram que as cápsulas fossem fabricadas com um material inofensivo, para caso fossem ingeridas acidentalmente. “Elas precisavam ser azuis e vermelhas, necessariamente. Acredito que tenhamos usado gelatinas dessas cores”, descreve Paterson. Outra coisa interessante sobre a cena das pílulas é o fato de que algumas sequências eram fisicamente impossíveis de serem filmadas. Talvez tenha passado despercebido por muitos de nós, mas a tomada em que Neo (Keanu Reeves) aparece refletido nos óculos de Morpheus (Laurence Fishburne) é uma montagem: “Para que as mãos de Morpheus aparecessem no reflexo das lentes, elas precisariam estar na altura dos seus olhos. Filmamos as cenas de cada mão, separadamente, e as inserimos nas lentes na edição. Vocês devem saber disso”, conta Owen Paterson, com bom-humor.
Cupom Dourado – A Fantástica Fábrica de Chocolate
Julie Dawn Cole, atriz que deu vida à mimada Veruca Salt na versão clássica de A Fantástica Fábrica de Chocolate, conta que os cupons dourados, cobiçados pelas crianças, eram feitos de uma espécie de papel alumínio, um pouco mais encorpado do que o utilizado para culinária. Ela também revela que o aderecista entregava os cupons para os atores, curvando o corpo em uma reverência: “Aqui está o seu cupom dourado”. Isso ajudou o próprio elenco a construir a importância daquele objeto no set e na história do filme: “A cena que nos encontramos nos portões da fábrica demorou uma semana pra ser gravada. A produção pedia para termos cuidado com os cupons, mas foi impossível, depois de tantos dias. Eles ficaram amassados, com orelhas, por isso tinham algumas peças de reposição”, relembra Julie.O cupom dourado foi tão marcante que virou uma frase de efeito, principalmente nos Estados Unidos, onde o longa foi rodado – “Consegui um cupom dourado!” é sinônimo de sorte e conquista, eternizando o objeto no imaginário popular
Via Thrillist
